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domingo, 26 de fevereiro de 2012


                         O beijo
Na comemoração do final da segunda guerra mundial, um marinheiro vem e beija uma enfermeira em público. Ela afrouxa os ânimos e solta-se nos braços dele com um longo beijo cravado no tempo. Foi cinematográfico. Os filmes passaram a retratar este ato como o mais convincente de os atores mostrarem o ardor da paixão. A moça cai com a cabeça solta para trás e segura pelos braços masculinos, ela então com as pernas frouxas, desconexas e deixa-se. Nos filmes fecha-se num zoom, no encostar de lábios do beijo técnico mais convincente do cinema.
O soldado que regressa vivo, anônimo, representa o vencedor, o país - tudo pode - por um momento em que as regras ficam suspensas. Pode beijar a primeira donzela que vir ou que esperasse vê-la, como um herói ou mártir, que sonhou tantos momentos não vividos.
Falando-se em beijo, começou com um ósculo. A morte ritual de Jesus, do Getsêmani até ao gólgota, um beijo de traição deu início à morte feita a passos. Teve que sofrer tudo para que tornasse símbolo de todos os sofrimentos e culpas a expiar, como um animal propiciatório. Conhecida como a paixão e celebrada desde os primeiros séculos, de tal modo ligou-se ao imaginário popular que somente a cruz de ornamentação, em prédios públicos ou particulares, por si só já representa o crucificado faltante. Um anônimo se torna ilustre, mas numa morte propiciatória. Após três dias ressuscita e tem o poder sobre vivos e mortos, conforme o credo.
            No beijo do pós-guerra, milhões viveram este sonho de paz, festa e amor, e depois de as fotos circularem o mundo todo é que se foi procurar o casal do beijo. Ela foi encontrada logo. Ele apareceu somente agora, depois de décadas e octogenário, já que antes muitos apareceram como beijadores dela, todavia o estudo através de biometria dos candidatos feito pelo perito forense, Louis Gibson, em 2007, fez identificar Glenn McDuff como o autêntico beijador. Será que os outros não haviam beijado também para comemorar a vitória? Não, porém, naquele instantâneo de Alfred Eisenstaedt.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

2974 caracteres

Amigos,  a grande tendência globalizante é que a vida se faça por imitação, mas não é o que a espiritualidade leva e sim à uma descoberta pessoal de si e de outrem e quiçá do grande Outrem. Compartilho com vocês minha visão de espiritualidade e do que tenho percebido, desde pessoas mais próximas até as que vejo pela net ou TV. Este blog é de discussão, por isso mesmo, pode expor os pontos de vistas, sem medo.
Abç do blogueiro.

Na lei do Amor
Na teologia de Leonardo Boff, no livro Vida para além da morte, ele afirma que a criação não terminou, nem os sete dias do Gênesis, e Deus ainda cria o mundo. A ressurreição se dará na consumação dos séculos e do mundo com a ressurreição completa do universo e destaca que a ressurreição é espiritual, não meramente física. Ressurreição também dos animais? Não sei, são parte do mundo e da consciência humanizadora. Parece uma ideia ingênua e que veio pela visão de Teilhard Chardin, que escreveu o Fenômeno Humano, o qual me parece ter sido influenciado pelo naturalista Charles Darwin, propositor da Teoria da evolução. O padre Chardin concebe a ideia da Cristogênese, da Amorização, e Cristo como homem perfeito ao qual o humano evoluirá – cita ainda Chardin em seu livro que “tudo o que havemos de ser, já o somos de alguma forma” e a Consciência vai aparecendo na evolução. Este padre era paleontólogo e descobriu em suas escavações o homem de Pequim, um ancestral humano, por que em Pequim? Por que o padre foi mandado para lá por medida disciplinar, por defender ideias estranhas da união entre ciência e religiã. A ciência era uma ferramenta muito útil a sua fé. Hoje os cientistas são requisitados pelo Vaticano para fazer os documentos e encíclicas papais sobre aborto, inseminação artificial, e outros temas em que a Igreja Católica Romana quer orientar moralmente a conduta de seus fieis, sem se macular em condenar pessoas como fez com o cientista teimoso do “Eppur, si muove” – Galileu - que desafiou a Igreja com suas teorias. Após alguns séculos a Roma eterna confessa, errou – aliás, desculpe-nos o trocadilho, mas Jesus também era galileu. 
Ressurreição, tema emblemático dentro da cristianização e polêmico dentro das de caráter reencarnacionista, os cristão espiritas, que veem o além-túmulo como estágios virtuosos ou viciosos, conforme o vivente merecer – teoricamente, uma discussão se instalaria, mas na realidade, no Brasil, todos se dão muito bem e a caridade é abundante, na obediência do primeiro mandamento cristão do Amor. Por ora, a teoria aceita ou não, a tese posta ou não, a vida está aí para cristãos católicos, evangélicos ou espíritas, o relevante é a vida que temos, que vivemos. O fenômeno cristão é uma força humanizadora na história e que perdura na Lei do Amor, este feito mandamento, sem peias, instituída na última ceia, revivida ritualmente nos elos das comunidades e tradições. Tenho que todos que vivem por esta diretriz, este mandamento, independente de sua denominação ou classe, mesmo que doutrinariamente divergentes, são cristãos. O Amor ainda permanece perene como doutrina precípua do mestre ou Cristo – evangelho significa boa nova que é Isto ou pensou-se que fosse algum estudo hermético de um sábio antigo? Para qualquer profissão de fé, e somos cristãos, o relevante e principal é a Lei do Amor.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

ANDAIME

ANDAIME
O grupo Andaime de Teatro, coordenado por Antonio Chapéu, vai ter um livro lançado brevemente com relatos das experiências de artistas do grupo e a história deste celeiro de talentos hoje espalhado pelo mundo, talvez contemos com relatos destes que hoje se encontram na "diáspora" porque os que primeiro vestiram as personagens, deram voz, deram intimidade a existência deles, cresceram, casaram-se, alguns na Itália outros por aí, quando a gente vê num encontro ou outro. A minha  esposa Luzia Stocco eu segurei em Piracicaba, por enquanto....
Vejam este texto do blog como um arremedo, um rascunho, uma contribuição tosca das muitas contribuições ao projeto do livro pelo crítico e escritor Alexandrre Mate, com certeza virá com correções, com fotos, com histórico, com críticas, com as palavras mesmas dos artistas, eu sempre acompanhei minha esposa pelas coxias, provendo água, dando uma ajudinha para carregar cenário.
Título: Participação extra
O mundo e o homem estão em construção - impossível tirar o Andaime.
Conheci o grupo de Teatro Andaime ao conhecer minha esposa. Levava-me a tiracolo aos ensaios e apresentações, apresentando-me na coxia a pessoas especiais, aos artistas. O corre-corre dos corredores, do repasse da última cena, dos recursos precários e do improviso de figurinos e adereços, da inventividade e da disciplina irreverente que tem um ator.  É um displicente organizado. A lógica do absurdo, de um clown fleumático ou de um extrovertido mesmo, do caipira, da outra pessoa dentro do espelho, o interpretado.
Via-me perdido nesse meio, conduzido pelo fio de amor de minha agora esposa. Admiro-me como criança das enormes maquinarias de luzes, roldanas e cortinas altas, as cenas eram-me já familiares e até alguns me tomaram por crítico de arte, não, era um observador contumaz e admirador da arte em que vida e obra se entrelaçam. Eu ator não, figurante de procissões, mas não para ela, à minha amada era uma contracena – ela é atriz e estava na sua personagem, tive de me dar um nome e uma atuação para nos entendermos nesta cena da procissão da peça Lugar onde o peixe para – talvez ator por acaso e por timidez (um contrassenso).
As interpretações, as viagens de ônibus com os figurinos, alguns bonecos sentados nas poltronas e as cantorias, a bagunça, as conversas paralelas, artista conversa ao mesmo tempo e se entende. Na chegada ao teatro, o encontro com outros artistas daquela cidade, descarregar e arrumar para a cena, cada um cuidando do seu figurino e personagem.
Ao entrar em cena a transformação, amigos, pessoas que até bem pouco tempo arrumavam luzes, brincavam, confidenciavam algum problema, são outras, mesmos os tristes por algum problema familiar riem como personagem, não, mais que isso, são outras pessoas – a verdade dramática está nos olhares, no corpo. Se não soubéssemos, acharíamos que a pessoa mesma morreu e outro assumiu o lugar. Os atores sabem que para passar uma mensagem, uma cena, as personagens têm de ter caráter próprio, vida própria e laços próprios para estabelecer a “sua” relação com o público, não com o colega de coxia – não se dará aos cacos. É um ato de amor e um divisor de águas para um novo conhecimento a interpretação séria. É possível uma nova relação humana.
Eu, então, posso ver de lá, do público e me sinto-me um privilegiado.
Abraços aos amigos do Andaime.