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domingo, 29 de maio de 2011


Agradeço aos compradores de O Seminário, leitores ou não, que me ajudaram a pagar os custos de gráfica e edição. Dentre estes compradores, alguns o fizeram para colaborar, outros por interesse pelo tema e alguns até gostaram. Toda opinião me bem vinda, vou aprender com elas. O livro é vendido aqui em Piracicaba pela livraria NOBEL do centro e da Unimep-taquaral ou ainda por este blogueiro pelo mesmo preço, a todos compradores que quiserem faço meu autógrafo desenhado, se o quiserem. Vai aqui ainda a sinopse para dar água na boca:"A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga, de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou
as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou. Mas aos que não leram ou não tiveram acesso ao O Seminário, leim o texto abaixo, uma lenda que transformei em crônica, "a modo mio."
O blogueiro
Mula-sem-cabeça
Um animal que rodopiava pela cocheira à noite entre os cavalos. Dava coices e derrubava cercas e desembestava num tropel, levando cavalos fujões a lugares inimagináveis. Depois o dono tinha de ir com corda laçar os arredios ou desatolar alguns do riacho e alguns só faltavam subir em árvores. Os caboclos que a viram de frente e sobreviveram dizem que tinha uma cruz na testa e pulava como os redomões e vinha sempre em noite de lua.
O animal teria sido de um barão dono de escravos, dava muitas chibatadas neles, era sádico e foi na casa deste que a mula fez grande estrago. Entrou pela porta, fuçou tudo e coiceava, por fim derrubou as lamparinas, que queimaram a casa e o barão morreu junto, virando lenda. À noite as famílias se apegavam ao terço e lá ficavam temendo os ruídos, até de um latido de cão cismado.
Meu pai não tinha medo disso e dizia com valentia que era superstição. Quando moço ia sempre aos bailes, o cavalo voltava sem ele pegar nas rédeas, sabia o caminho, dormia sobre a cela. A mula-sem-cabeça nunca o atacou, mas tinha uma porteira que abria sozinha, mas isso é para outro texto.
Nunca o atacou, mas numa noite a viu de relance atrás de um capinzal. O sono o impediu de verificar a contento e o cavalo manteve a marcha leve até a casa. Como a tal não o seguiu, deixou-a por lá, estranha que fosse. Todo o sábado passava ali naquele lugar, uma santa-cruz e um capinzal da fazenda do barão e um animal muito grande pastava. Era sinal de azar, que mudasse de caminho, encontrá-la seria a morte e a ruína.
Meu pai foi ao baile pela mesma trilha, dançou com várias senhoritas, não deu esperança a nenhuma, ainda não escolhera a sua, voltou à montaria, não estribava, bateu no pescoço do animal e este foi no caminho aprendido pelo hábito e passaram pelo capinzal afamado. A mula? Meu pai desceu para ver a tal. Um mulão enorme, sem dono, que parou, levantou a cabeça da sombra que a noite fazia, era uma malacara linda.
Voltou no domingo. Os caboclos deram as descrições físicas precisas das muitas aparições pelas redondezas e meu pai falou:
- É esta? – e mostrou o animal laçado, só restaram os copos sobre as mesas, os homens fugiram todos e meu pai teve de se servir, pois não havia nem atendente mais. A mula? Bem, esta esperava o novo dono e nunca deu problema. Para se adestrar um animal, não se pode perder a cabeça.
Este texto foi publicado no A Tribuna Piracicabana em 28/05/11

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