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sábado, 28 de janeiro de 2012

Sala de Espera

Os que tiverem interesse sobre a entrevista na TV sobre As ciladas vejam no endereço abaixo:
http://tvunimep.wordpress.com/2012/01/26/lancamento-do-livro-de-camilo-quartarollo/
Hoje posto sobre uma experiência que me rendeu essa crônica. Vejam a seguir.

Sala de espera
Cheguei para consulta, a secretária preencheu uma ficha extensa minha, meus dados pessoais, gostos, medos e time que torcia. O espaço era uma sala pequena, cabia apenas mesa dela e o meu corpo de perfil e educadamente passei todos os dados com a carteirinha do plano, nariz com nariz. Fiquei ali aguardando a minha vez, meio perdido, porque se chegasse outro nos colidiríamos; a secretária vendo minha instabilidade informou-me... Ah, havia uma sala de espera ao lado. Virei à porta do canto e havia uma sala longa, de muitas cadeiras, de espera. Ia ser chamado, mas isso há três horas naquele recinto oblongo e de teto baixo, porém esperar é da vida e esperei anotando coisas e revendo apontamentos aleatórios. Parece que entrara num ambiente do expressionismo alemão, daquelas perspectivas horríveis. Ao cabo deste tempo só me sobraram lembranças de uma caixa de pandora, meu ritmo esquecidiço, algumas esperanças imóveis e uma sala de espera. Vaso seco, com algumas raízes em clamor, insepultas. Doutro lado uma planta espinhosa, de uma sala sem luz e comprida como o corredor de um labirinto. Da espera, alguns passos e vozes que se ouviam em eco, alguém fazia anamnese e eu esperava paciente, pacientemente. Imaginava além, com meus ouvidos uma sala mais aconchegante para a consulta, proporcional, com piso bonito, cores alegres, não uma toca de cadeiras, talvez sala secreta de reuniões escusas ou porta errada? Alguém pôs a cabeça na porta e chamou-me. Minha vez! - O senhor é o próximo?
Eu era o único e o Doutor tinha a cara do Dr. Callegari, aquele do filme do expressionismo alemão, de cenário de portas esquisitas e paredes tortas, mudo e branco e preto.  Postou-se atrás de um bigode que segurava com a boca de esgar e me olhava. Que males ia relatar já não me lembrava. A sessão de tortura voluntária já me custara o estoque de pensamentos que  me justificassem a permanência ali. O tempo passou e os sintomas eram enganosos. Sim, porque ao se ir um especialista, tem de se saber o que se tem, principalmente plano de saúde. As dores recorrentes andam pelo corpo e de consultório em consultório. E veio o primeiro diagnóstico: a idade. Esperei tanto que acho que envelheci. O doutor, mexendo os bigodes como borboleta, limitou-se ao laconismo do “sinto muito” e eu à falsa solidariedade - eu também - sentia muito, todos os dias de minhas dores.
Deu-me alguns remédios para dor e saí com a mão doendo, apertou-me na despedida. Saí sob os olhares dos da sala de espera e minha cara de dor crônica não inspirava confiança, mas quando escapei pela porta e deixei a longa sala desesperado, que alívio! A dor passou, relaxei a face, soltei os ombros e ria como um Buda.
Remédios? Não os comprei, não. Para a dor da vida não tem remédio e era um jeito de eu me desforrar daquela compaixão cínica com que me atendeu. Da próxima vez já vou com a doença pronta.http://tvunimep.wordpress.com/2012/01/26/lancamento-do-livro-de-camilo-quartarollo/

Um comentário:

  1. Olá, Camilo! Ler você, além de um rico aprendizado é fonte de "diversão" com a realidade que enfrentamos em nosso dia a dia! Parabéns! Leio o seu livro "As Ciladas do Andróide" e filosofo em muitas das nossas ações diárias! Excelente! Indico para nossos blogueiros! Abraço, Célia.

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