Amigos, grato pelos acessos da semana passada. O café é um tema rico não só para a economia dos anos passados e talvez de hoje, mas para o encontro, as classes do pé sujo, dos engravatados, dos enamorados, dos mais simples ou mais frescos, cultivam o hábito de tomar café ou, se não, por algum efeito gástrico como um amigo meu (que me deu uma reprimenda, sentido, magoado e dizendo - já não disse que não tomo café - ainda vou escrever sobre isso!). O café é tão emblemático que tem o café preto e o café-com-leite, o café forte, o café fraco, o café do bule, o café torrado e moído na hora, café preto é daqueles mais decididos, toma numa virada e nem assopra o fervor e geralmente o tomam de manhã para acordar, o cérebro nem sente a língua se queimar e podem se tornar de língua ferina, como eu às vezes.
Bem, depois dessa introdução, se quiserem ler o texto abaixo é de minha singela autoria e como não sou personalidade, perdoem os erros que não perdoam àqueles. Agradeço aos editores da Prosa & Verso, coluna de literatura do jornal A Tribuna, daqui de Piracicaba, pela publicação do texto abaixo.
O elevador e o
confidente
Não havendo outro
lugar, escolheu aquela caixa metálica, com duas portas frias, como esconderijo
às suas lágrimas. Precisava de algo que a levasse dali, numa evasão física da
dor, que ascendesse deste espaço transitório, limitado, a outro mundo quem
sabe.
Quando as portas se
fecharam sorria aos convivas naquele barulho costumeiro de ar comprimido entre
abrir e fechar, seus olhos se abriram para dentro, escondidas à outra do
espelho, de costas. Um lenço cheiroso e as lágrimas copiosas de maquiagem
desfeita desciam em veios e brilho dos olhos próprios, sim, os que mostravam a
alma.
Àquela hora última o
elevador dessa ala estava no vazio de um momento pessoal dela, que subia a
pensar ouvir vozes, ecos do poço do mesmo. Do outro lado do edifício as pessoas
quietas, somente alguns passos e toques de paradas do elevador, oposto ao de
serviço, inativo à noite.
O seu transporte parou
no último andar. Parou e abriu. Alguém daquele apartamento com a porta aberta
chamou:
- É você?
Via-se do elevador a
cozinha com mesa posta, com toalha de rendas e o bule verde, tudo com o
requinte de espera.
- Quer café?
Não, bastavam-lhe a
visão, o aroma incontido e a lua que passeava deserta, mas aceitou depois de
duas últimas lágrimas, enxutas com o canto do lenço vermelho.
Lá embaixo um vento
varre o céu e as estrelas num cinzento amargor, mas alguém corta pelo
passadiço, apressado e vai embora pela outra calçada. Cá, o café esquenta os
ânimos. Já pensaram como são frios e solitários os elevadores, nesse outono? Naquela
época, muitos a achavam minha conquista amorosa, mas ela apaixonara-se por
outro, que era de muitas outras, desalmado, e eu o confidente crônico dessa
alma. Nada mais.
Aos que se interessarem por ficção científica e por uma boa literatura, segundo o autor em causa própria, adquira o meu livro As ciladas do <Androide>, pelo e-mail camilo.i@ig.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário